palavras chave: banda sonora: unidades semióticas temporais; modalidades musicais; símbolos, índices e ícones sonoros; "espaços" cinematográficos

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sábado, 7 de fevereiro de 2009

Milk

Tentando recordar o que ouvi há umas semanas e filmes atrás, cá vai o que pensei sobre a banda sonora do "Milk":
Riqueza na abordagem musical, desde logo pela inclusão de música diegética (que alguém, em cena, põe a tocar), mais notoriamente com a ária de ópera, que se chega a misturar com música não-diegética. Esta mistura, ao contrário do exemplo falado em "A Expiação", não produz uma sincronização harmónica: o resultado é MESMO duas músicas ao mesmo tempo: a música operática funciona como um significante da pessoa Milk, ao qual se adiciona uma "música de banda sonora".
Cortes bruscos nas músicas acentuam algumas das elipses que marcam o filme, nomeadamente nos regressos a planos relacionados com a gravação- "testamento" que Milk efectua em sua casa.
Alguns ambientes sonoros fazem prever, logo desde início do filme, um final trágico, que será marcado pelas heróicas sonoridades dos "metais americanos", um dos poucos momentos em que o filme soa a "hollywood". Diga-se, no entanto, que o trabalho de Danny Elfman soube sair do reconhecível tom "Batmaniano" ou "Nightmareano" (lembro - atenção - que "Nightmare before Christmas" foi o filme que mais vezes vi), que muito dificilmente se enquadraria na estética "Van Santiana" (isto já vai com muitas aspas....). Pessoalmente detectei aquele tom Elfmaniano num ou outro momento e pareceu-me desadequado e "fora". Mas em bons momentos me fez lembrar outros tons (não orquestrais), como os criados por Danny Elfman e por mim escutados em "Wanted" (Procurado) e que, com timbres mais eléctricos, dão um acompanhamento sonoro mais moderno ao enredo.
Não foi surpresa para mim ver o nome de Van Sant na lista dos "sound-remixers" uma vez que se notam semelhanças com o pensamento musical existente nos filmes dele referidos de início neste blog. Desde logo continua sendo muito interessante o aproveitamento de música já existente (continuo ainda sem saber se as escolhas são do próprio Van Sant ou de um tal L. Schatz que colabora com ele, como sound designer). Particularmente feliz é a escolha de uma gravação dos Swingle Singers, que empresta as suas versatilidade e capacidade humanas (são vozes cantando música instrumental) à criação de uma imagem de "capacidade de engendramento". Esta imagem fica ligada ao "espaço interior" de Milk, quando este planeia abrir a sua loja de fotografia. É muito interessante constatar como aquele material vocal é completado por outro, original, também com timbres vocais, por forma a completar a duração do mencionado plano. Num rico paralelismo temos "footage" (filmagens da época) e recriação de ambientes, fílmicos e musicais.
Termino mencionando a habitual estratégia de adicionar tensão à música através, por exemplo, de lentos tremolos de 3ªs menores ou de um adensar da textura - criando uma sensação de "a caminho de" (= UST trajectória...) - quando todos aguardam os resultados das eleições.
Ficou-me na memória um filme muito dinâmico, para o qual a música muito contribuiu pelo facto de quase sempre darmos conta que ela lá está.


2 comentários:

HFG disse...

Caro seguidor:
Em breve falarei da música destes filmes. A hora já não permite grandes reflexões, por isso fica para outro dia. Mas... depois do Milk fui hoje ver "A Troca", de Clint Eastwood. Diria que a música tem mais a ver com o discurso do realizador - que me parece querer falar de muitas coisas pertinentes, do que só propriamente com a história. Gostei muito do filme e da música: Aconselho ver até ao FIM mesmo! para ouvir a cadência interrompida, com uns retardos "baris"... Não podia acabar com o acorde de Tónica Maior, não acham?

Anónimo disse...

Vou hoje ver o Milk. Depois volto a ler o post para ver se percebi tudo!

Não ouvi a cadência interrompida da Troca...não sou das que ficam até ao fim... confesso (excepto quando preciso de apagar alguma lagrimazita.)

G.